terça-feira, março 29, 2005

Que Nome Tem A Paz?

A Paz tem Voz?

Ela perguntou por onde anda aquela paz que gente normal como nós sentimos.
Aquela simplicidade natural das crianças por perto, crescendo, o primeiro susto, é gripe vai passar, olha lá no céu lá oh é o avião, viu? Uma vidinha comum, o jornal nacional, a novela às vezes antes, às vezes depois.
Aquelas ruas onde tem sorvete e gente que vai pro trabalho.
Onde ter sonhos é uma idéia natural. Por cima do rodo cotidiano. Da vida de gado. O troco às vezes é pouco, quase nada. E a vidinha malvada some no ralo.
Brilham os olhos das pessoas. Por vezes lembranças sem nome. Por aqui todo mundo se gosta. O Brasil é o país do carnaval e também de casas apinhadas de crianças sem pai. O morro do samba partido alto, também é de hip-hop.
Aqui, negro ou branco, só vive quem luta. Por noites em claro. Em dias intermináveis. Por detrás das preces milagrosas. Peregrinações as vezes. As privações de desejos, que todos têm e todos escondem do inevitável destino final.
Falar de amor todo mundo sabe. Ou já viu na televisão. Tem em algum lugar, guardado. Que se esqueceu. Mas quer muito. Só que agora está com pressa.
Falar da Paz, todo mundo sabe. Quer muito. Só que agora moço? esta danada da pressa.
Paz e amor já foi um sonho bom pra todo mundo. Adormeceu cansado. Talvez esperando. Talvez a pressa.
Não que o amor possa acabar. Que a paz não possa esperar. Alguém lembra em como se esperava a virada do milênio? A era de prosperidade ia iniciar. O espetáculo do crescimento vinha. A paz ao alcance de todos.
Agora não faltam as notícias ruins de sempre nos jornais.
Falam de casas cinzas na periferia de Jerusalém. Falam das cinzas no berço da civilização. Dos rios Tigre e Eufrates inundados na lama de uma mentira. Do rio Jordão que irriga com sangue inocente o deserto.
Efeitos da solução.
A nossa PAZ ruiu com aquelas torres e está novamente de luto.
Em todo mundo os olhos refletem o pesar solidário. No corpo inerte do guerreiro sobressai o respeito por quem abandonou as armas e não sua luta.
O sonho. Uma idéia sempre igual. Aquela gente assim normal. Atrás do trôco que é quase nada. No rodo cotidiano a simplicidade natural. Aquela fé radical no bem e no mal.
Ela é linda, mas não tem nome. A vida é de gado. É das casas apinhadas de crianças sem pai. A vidinha comum, o jornal nacional, a novela às vezes antes, às vezes depois. Todo mundo sabe. Todo mundo vê televisão.
O jornal New York Times contra ataca as asinhas de fora do Brasil. Denuncia a escravidão em pleno século 21, mas surpreendente mesmo é que enquadrou como escravos contemporâneos todos, abre aspas, sobreviventes, fecha aspas, dos grandes cinturões urbanos. Como no ABC paulista. Terra de Lula. Captou? Percebe?

E aquela paz de gente normal. Crianças por perto crescendo. O primeiro susto, é gripe, quando casar sara, um beijo vai passar, olha lá no céu lá óh é um avião, viu?
As ruas onde tem sorvete com gente que vai pro trabalho.
Os sonhos de PAZ. Uma idéia natural. Por cima do rodo cotidiano.

Mas a voz dele diz se é Paz sem voz, não é Paz é medo.

sábado, março 26, 2005

Ela ama a febre disco

Eu também.
e também amo as mulheres sensíveis,
as de coração nobre e as perspicazes.
e quando faltam certezas e inspirações apaixonantes,
vem aquele tom de pele que para tudo, cancela texto, deleta mensagens subliminares e conclui aqueles absurdos eternos que nem duram dias...
As paulistas e cariocas podem então ser as faces da mesma moeda.
E eu queria mesmo era agradecer a visita feito pura simpatia.
dizer também que estive fora uns dias. a onda diferente era o aniversário de 15 anos de minha filha.puxa... dizer o que? desta vez não sei como...
fazia aniversário que pedia uma festa. não queria ser mais uma debutante, nem ganhar viagens e onde eu iria me meter se não fosse o que ela pedisse.
A festa foi perfeita. E aí nisso acabei descobrindo o real significado de perfeição, que é quando as coisas são simplesmente o ser.
nem mais nem mas. nem menos nem se. tudo muito bom quando se consegue fazer o sonho virar realidade. e coordenar coisas para que elas possam vir a acontecer. deixar que as pessoas façam o que está nelas fazer. enfim, colaborar com o destino para que ele aconteça, para que aconteça o que tiver que acontecer.
e aí a gente sente que faz parte do universo.
então que vem aquela sensação que se costuma chamar felicidade.

quarta-feira, março 16, 2005

Survives Part II

Passam os dias e as ruas imundas ainda estão lá. Guetos e favelas atraem pessoas como um ralo . mas eles insistem em sobreviver. sob o céu desabam desgraças em um maior volume do que qualquer cristão poderá suportar. não é verdade que sejam os mesmos que estão por lá agora. é que são tantos. não se destingue entre toneladas de entulhos, as pedras que rolavaram abaixo.
Há muito deixou de ser novidade as razões dos descaminhos. menos pela pobreza material. muito mais pela do espírito. não dos rebentos. dos pais. enquanto foram filhos. o que comer, beber. a agua limpa, uma cama limpa, uma comida quente. a proteção da chava, um lugar seguro a salvo do medo das ruas. afeto, entre os que estão próximos. alguma coisa aquece . a chama é morna. e então se diz eu acredito. alguns amigos sinceros e um sonho na cabeça. seria o suficiente. é o bastante e necessário.
Não há um único caso de abalo no caminho que a vida traça, que não tenha acontecido primeiro aí. nesse local que seria para o abrigo. morno e sereno. depois parece é só a vingança desenfreada. não importa se você não acredita em nada disso. nem eu. eles continuam vindo aos borbotões para as ruas. como histórias repetidas, sem o final feliz .
É assim, nem precisa contar nem esperar pelo fim.
Mas os dois sujeitos que conheci mostraram que não é assim.
Um prega agora a palavra da Bíblia. Ore por jesus irmão! Amém. Aleluia. É crente sim. E esta em paz. Quando esta escuro. Quando vem a noite. Ele estica a mão e tem. ali. O copo de água. Alguém esperando. A vida curta sob a chuva que desabava ficou pra tráz.
E você vai querer me dizer o que?
O outro perdeu tudo também. Mas tudo nunca é tudo . não tudo que realmente importa. A força esta nestas frestas por onde o espírito se espande e se contrai. que se materializa num sonho impossível. de um sonhador obestinado. atrás do improvável. mas essa nunca é a questão relevante na vida.
Qual é o seu sonho. pelo que você está realmente disposto a lutar.
Eu conheci dois caras ontem à noite. Com essas histórias que tem no cinema. só que não era. era real. E eram o oposto um do outro. em tudo. um do bem . um do mal. um por amor.um por ódio. um pelo dinheiro. um pelo comprometimento. e o que salvou os dois foi terem engolido o orgulho. Que daí serviu de alimento para espírito.
Quem vai saber onde surgirá outro. e os próximos.
Quantos terão uma chace para voltar pra casa?

terça-feira, março 15, 2005

Sobreviventes

Conheci um cara, não, dois caras, hoje à noite, desses que você diz, putz, que história e se dá conta do quanto é pequena a vida e grande a distração na hora de se focar a felicidade. O primeiro sinceramente não tenho idéia do que realmente passou para que estivesse em minha frente ...vivo.
Se a vida dele ficou sem valor é pouco. A morte do sujeito tinha um bom preço. E estava ali num grupo reduzido de pessoas contando a sua versão da história. Difícil não acreditar, os detalhes são descartáveis, até porque não trazem referências como nomes de conhecidos e locais próximos. As tramas poderiam vir de um lote de novelas, do imaginário ao gosto popular, de um dom criativo.Mas vem recheadas de uma postura, de uma voz calma. Realista e pé no chão demais. Contrasta com citações bíblicas. Cenas de tiroteios se revesam com a intimidade de um drama em família. Olho no olho até as lágrimas. A que preço esteve a vida. No fim era só uma resposta, à pergunta aquela, você é feliz aqui?

Do outro, cara, um insano, que de tão impetuoso e determinado em sobreviver fez a lógica da vida mudar de opinião a seu respeito....ou de lado
É o fim da primeira parte....

sábado, março 12, 2005

Luar Dos Meus Olhos

Luar dos Meus Olhos irradia a luz que eu quero ser. Abre caminhos. É a guia do lado escuro, a linha d’água, onde titubeio pé ante pé. É o dia, a lembrança, é o que me faz falta. Não o ar, não a água. Nem roupa lavada ou comida quente.
Luar dos Meus Olhos disse: boa sorte pra você. Ela queria jogar, eu perdi esta aposta. Segui seu nome e a fome na mesma trilha. Era o mesmo destino que já sei de cor. Então me diz porque acreditar que é pra valer.
Luar dos Meus Olhos é uma canção. De música ligeira. Lugar incomum ela recobre meus ouvidos com murmúrios e sussurros que escolhe dizer. O chão se abre, sou guiado na praia de seu sorriso. É desse modo meu farol. Tenho olhos já secos pelo sol. Se possível também leio teu livro em altar.
Luar dos Meus Olhos nem escutei o que me diziam. Não olho mais pra casa que fui. Nem uso as roupas que sou. Você também nem lê as entrelinhas que te escreveria. Nelas o sujeito resistia.
Luar dos Meus Olhos estranhos não se olham, seria só sorriso, sem feitio. Não fosse que mergulhasse nas ondas desse desafio. Passava ao teu lado, só mais um amigo. Fosse exato. Fosse preciso, talvez de vez em quando te encontrasse. Como laranjeira no dias de flor.
Luar dos Meus Olhos é uma ilha um colar no mar. Espuma flutuando branca na praia rasa dos corais. Uma noite amanhecendo futuro. Prece de coração apertado, oração repetida em meu rosário de contas. É assim. Como perfume.
Luar dos Meus Olhos é o caminho o lugar melhor pra me achar. Mas e ela se foi ?... Pra longe de mim. Como repuxo do mar. Eu não quero de novo o inferno. Mas também não posso fugir. Desta vez foi só com a chuva, me inundando de pranto me afogou. Até noutro mundo pra ir te encontrar. Até o lugar do adeus.
Luar dos Meus Olhos tem sabor que eu salivo. De gosto misturando frutas. O sonho de algum lugar que eu gosto. Ninguém do lado pra me acordar. Chumbo em gás. São imensos espaços pesados que ocupa. Só hoje o silêncio é companhia. O tempo fica. Ficou também o gosto. Algo na memória. Nem o quando nem o onde. Talvez um dia, se essa chuva parar.

terça-feira, março 08, 2005

Dias de Rock

De Jorge Haas





Eu sei, é apenas “rock and roll”, mas eu gosto. Nem sei quando começou essa coisa, até estranha, de gostar de rock num país tropical. O Brasil é um lugar rico em tradições e estilos musicais. Muitos deles são mais bonitos, mais sofisticados, mais românticos e mais alegres do que qualquer outra coisa já feita no resto do planeta.
Eu sei, é apenas “rock and roll”, mas eu gosto. São só três notas musicais. Aquela batida simples e sincopada. Uma dança meio maluca. Nada mais simples, nada mais óbvio. Letras básicas, tipo “eu amo você” ou “há, eu não amo mais você”. Pelo menos foi assim que tudo começou.
Sem muito trabalho para criar, nada de coisas complexas, o tempo passa e nas tardes da eternidade a pressa é a sede da juventude. Coisas básicas: mudar o mundo, cruzar o planeta. Desvendar a Califórnia, Londres e Hamburgo. Tóquio, Pequim e Bombaim. Seguir a infinita highway, ir a todos os lugares, por todas as autobans.
Eu devo ter estacionado num daqueles lugares onde o prá sempre sempre acaba. Onde se dá lugar ao novo. Novos Lennon&McCartney, Simmon and Garfunkel, Paulo Coelho e Raul Seixas. Onde os “malucos beleza” insistem em sonhar com um mundo melhor para todos.
Dias de Rock ainda reverberam em mim.
Foi motivo o bastante para querer revisitar a história desta trilha.


Para: Lennon & McCartnney
Por que vocês não sabem/ meu lado Ocidental./ Não precisa medo não/ não precisa da timidez/.Todo dia é dia de verão./ Eu sou da América do Sul./ Eu sei vocês não vão saber./ Não precisa medo não /não precisa da timidez / todo dia é dia de viver.
De: Milton Nascimento & Lô Borges

Enquanto o estudante José Dirceu, atual Ministro da Casa Civil do governo Lula erguia sua voz num congresso da UNE em protesto ao regime militar nos anos 60, uma outra turma de universitários de Minas Gerais, fundava num boteco encravado no centro de uma bucólica Belo Horizonte o revolucionário Clube da Esquina.
Entre goles de cerveja e beliscos e petiscos deles, ensaiavam soluções para os problemas brasileiros em sua versão musical. Desenvolviam, ali mesmo, na mesa do bar, estratégias para conter o impressionante avanço da poderosa indústria cultural estrangeira do pós-guerra.
Desta trincheira sairiam nomes como Milton Nascimento, Fernando Brant, Lo Borges, Beto Guedes e Wagner Tiso entre tantos outros e pelo menos um hino daquela geração: Travessia.
Em todos os lugares do país se ouviam protestos ou manifestos. Ninguém era de todo indiferente a nova ordem.Para uns eram tempos de chumbo. Dias cinzentos para serem esquecidos. Para outros, foram dias de oportunidades. Dias de sol.
Para todos que sonhavam com dias melhores a trilha sonora foi o rock. Seco, alto, estridente, contrastante. Para os alienados e para os engajados. Foi ao mesmo tempo definitivo e passageiro, lúcido e alucinado. Lascivo e moralista.
Todas as entranhas da sociedade puritana, severa e moralista do pós guerra estava exposta de uma hora para outra nas canções da juventude.
Os conflitos raciais violentos no sul dos Estados Unidos, a guerra fria entre os blocos socialista e capitalista, o oriente e o ocidente, Israel e a Palestina, o Vietnan e Cuba, o homem e seu passeio na lua.
Como que jovens poderiam absorver a violência e a indiferença, agora explícitos, compreender tantas formas novas de ver a vida, ao mesmo tempo que estão sendo envolvidos por mudanças trazidas a reboque dos avanços tecnológicos.
A resposta veio com o vento, como um grito estridente não planejado, sem mídia sem reportagens, sem capa de revista nem glamour algum.
Big Band são agora simples conjuntos de apenas quatro ou cinco integrantes. O suficiente para lotar pequenos bares e entupir sociedades. A fama das novas bandas se espalha como o rastilho de pólvora. O rock leva legiões de fãs aos clubes. A velha Inglaterra percebe perplexa que está prestes a explodir.
Em Londres, Aldous Huxley, filho de um diplomata britânico escreve um livro relatando suas experiências com uma nova droga química que expandia a percepção para além dos sentidos. As drogas, como o LSD, se tornam objeto de estudo e curiosidade nos meios acadêmicos mais renomados do planeta. Era preciso conhecer os limites físicos e mentais. Afinal quais seriam os limites do homem?A loucura teria finalmente cura?
Conhecer tudo, agora. Ultrapassar todas a barreiras, já. Alcançar logo o impossível. Não interessa a perfeição, mas a expressão. O rock é pura atitude.
Eram Dias de rock. Estava se formando a grande teia de comunicação global de Mc Luhan. Bill Gates ainda não havia construído sua impressionante muralha high-tech, apenas perambulava em algum lugar místico e exótico entre Calcutá e Bangcoc.
Dias em que o mundo mudou, cresceu e foi apresentado a si mesmo.
Nunca, em momento algum da história isso havia se tornado possível antes.
Talvez tivesse sido isso mesmo o que os jovens do mundo inteiro intuíram, talvez por isso quisessem tanto cantar juntos a mesma canção.
Foi a primeira vez.

Haveriam muitas.