quarta-feira, junho 29, 2005

The Long and Winding Road

... como herança das estrelas.

( Das Façanhas do Amor e da Beleza)

Hago verdad la Fénix en la ardiente
Llama, en que renaciendo me renuevo,
Y la virilidad del fuego pruebo
Y que es padre, y que tiene descendiente.

La Salamandra fría, que desmiente
Noticia docta, a defender me atrevo,
Cuando en incendios, que sediento bebo
Mi corazón habita, y no los siente...

(Quevedo/ Sonetos del Cuarto Libro do Parnaso Español
e em El Libro de los Seres Imaginarios de Jorge Luis Borges).

sapatos e rosas não me dizem nada sobre ela por estes dias sem batom. um sorriso e um abraço diriam mais. e ela ainda me diz que a entendo. não, não é de todo verdade, também não é um descabido. de qualquer forma, se sente melhor pensando assim. mas a sua atenção não é minha. na verdade está a espera da palavra que a fará sentir-se viva.
tem a boca seca pela sede de viver.

estou na velha rotina, parado no tempo na longa estrada.
vivo apenas durante a noite. entre o ruído dos ventos e sons esquecidos para sempre. num lugar do nunca onde a espera é sempre um erro.

mas que diabos, let it be.

alguém me diz para deitar palavras ao vento porque amanhã o Sol levantará o dia com um milhão de guitarras potentes. Lá por onde entra o clarão da música quente que evapora os medos dos que se abrigam em corações fechados. virá o fim da noite dura porque dele saem línguas, elas te reconfortarão nas horas cinzentas, nas nuvens da escuridão, como ontem quando meus filhos mortos andaram em Mim feitos fantasmas. durou por um tempo. é um Dom, let it be.

tanto faz o que eu sinto agora e se me alcança a incerteza. se é pouco é o que está ao meu alcance.
entre uma safra e outra os dias vão ficando curtos, mas é ainda o suficiente.

ela olha para os braços e vê se falta algo. cruza as pernas por quanto ressoam em mim quatro estações de Vivaldi. tem sempre um sonho, uma esperança e mil perguntas: será possível chegar lá?... dias corridos, ela nem reparou no que lhe disse.

os sapatos são novos, ela é de confiança. ela não te contará que fugiu de casa aos 14 anos. agora o outro pé, depois outros compromissos. tem mais a dizer. nunca soube muito bem como é que se faz, mesmo assim ela tenta e faz tudo outra vez.


get back Jo-Jo go home. sete da noite pode ser de novo sua saída, mais um tarefa que te prende. chega acompanhada do cansaço este sim lhe preenche, preferia abraço forte à mão amiga. as lágrimas na noite se confundem ao dia. está tarde.

quer saber como vivo no passado. bailei na curva. nunca entendia regras, acho que não pronunciava as palavras certas.

os anos te juram que não fazem diferença e mais uma vez você diz que acredita.
volta a velha estrada e tira o pó da calça.
a flor tem um tope largo e um laço de fitas finas, detalhe inesperado em seu talhier azul.
só não faça de novo a escolha errada.
você quer ser conquistada, sair sem destino. decide esperar até que ele perceba, mas esta sempre tão distraído.
será que seus dias serão sempre assim. as promessas estão virando mentiras pra você sobreviver.

se você quer amor e romance escolha outra trilha. o teu elo perdido perdeu o sentido no tempo. é um cego trocando de esquinas, só você não viu.

o pesado dos dias vêem com a noite. pássaros e poesias de outono singram sempre muito acima de seu caminho, as flores e o estofado de veludo do carro macio não mudaram tua rotina. é tudo uma questão de preço. ao fim do ciclo das horas, nem um bom lugar serve para se esconder.

...então volta a pegá-lo pela mão... sair de vez dessa limbo-condição.
Sabes que seus sentimentos não lhe trarão nenhuma resposta e mesmo assim você insiste quem sabe se convence estar certa.

estou aqui há tempos. o suficiente para ver coisas estranhas, passo assim os dias.

você mudou. mas ainda é uma menina. principalmente quando eu fraquejo.
enxergo o precipício. mas é você quem fica a beira do desespero. não sabe o que fazer, mas sabe que precisa correr até onde sente-se segura.
somos iguais agora.

tão forte, tão fria. tão dependente.
enquanto o medo estilhaça tua blindagem o peso da tua armadura derruba as muralhas do teu destino. o tempo joga e tu por ele.
o credor, por pura ironia não sabe o personagem que faz neste teu caminho suicida.
seus corações cerraram as portas e jogaram as chaves fora...para guardar segredos !
está certo, não dê entrada a mais ninguém! traga o sujeito até a porta!... que bata e arrebente que faça ruído. que se vire. mas mesmo se você quiser, mesmo que ele abra e entre...será que vai lembrar por quem fez isso?...

e eu não lhe disse ainda adeus. é só mais uma estrada turva. olho e percorro os dias da tempestade, margens e raízes expostas. foi grande a enxurrada, levou quase tudo.

não me entenda mal, por vezes ainda preciso voltar ao passado. abro portas para ver se de algum jeito o que existiu foi mesmo felicidade.
vou seguir sem saber. se foram os filhos se foram as lágrimas. mas afinal quem é esse sujeito que eu deveria ter sido.
o passado é uma corrente traiçoeira mas o tempo me resgatou. sobrou para os arquivos de memória. um tanto de ambientes recheados com paisagens selvagens. nada mais. wild life.

para os olhos cores fortes e brilhantes.
para o corpo os portais do universo.
para o canto o mantra do mar sozinho me encanta.
para sobreviver o abrigo da sétima casa em sagitário.
para a sede o mel.
para comer a tua boca.
para o frio o sol.
para a energia o corpo.
para respirar, teu suor tatuado.

pode ser uma grande tolice, mas ainda assim eu queria chegar ao fim dos dias vendo nossos passos na estrada.

já aconteceu antes e não sei exatamente em que momento nos tornamos inimigos.
sei que o brilho que chegava das estrelas era frio. o frio das distancias. O brilho que eu escolhia era só poesia porque já estavam mortas.
nada como pensávamos. não envelhecemos juntos nem ao menos fomos solidários. aprendi como se chora e é estranho chorar muito tempo. mais que uma tarde. mais que as chuvas do verão. chuvas pesadas foram como herança das estrelas. por outro lado, conheci finalmente a paz e agora sei o que é descarte.

por isso rever o passado me fez entender ir adiante. posso voltar a dançar. para as vezes lembrar para as vezes esquecer.
já fiz a melhor das escolhas.

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