quinta-feira, dezembro 08, 2005

( Sem Título )*

* enquanto o Título do Campeonato Brasileiro de Futebol 2005 estiver sub judice

Quando chegou em casa Pretinha já estava na sala. olhava assustada, assim como quem está com coisa muito importante pra dizer. Pretinha !? o que tu faz aqui, achei que não te via mais. ela nem riu, que era o costume. tinha esse jeito mouro da fronteira. a mulher gaúcha ganhou sua justa fama pela beleza e simpatia, mas é na fronteira que estão aquelas que guardam características e comportamento das fêmeas mais selvagens e puras. mulheres ardentes, dadas a paixões explosivas, possessivas e determinadas. ele achava só bonito o jeito que ela ria. ela ria e se dobrava só porque ele gostava. ficavam os dois faceiros nesses sorrisos. depois virou em segredo porque ele soube que ela era casada. casada !? ele não falou nada, pensou, parou por aí. mas e o beijo? quase tinha esquecido. teve aquele beijo. ta mas, na época ele não sabia. eles já eram amigos se falando seguido. ela até que perguntava: e o nosso time ? só pela cara ela sabia dele. daí emendava um não liga é só futebol, não fica triste vai. amanhã melhora tu vais ver. essas coisas. ou então eu escutei os rojões vai ser campeão vais ver. vais né, porque gaúchos e gaúchas aprendem desde cedo o que é ser assertivo. o “s” se engole na fronteira e fica vai. o vai de Pretinha era diferente. não teve escola. tinha vergonha até quando pensava nisso. por isso ninguém sabe. então se dedicou ao filho. e só ele com o mesmo sangue neste mundo viu? mais ninguém !? não. a mãe se enforcou numa crise de depressão o porque certo ela nunca soube. se vê sua tristeza quando diz que foi deixada não sabe se aos três ou quatros anos. disse daquele jeito e só um braço que se moveu pro lado querendo cobrir algo dos olhos. um rasgo encabulado no rosto. o beijo aquele, ele que roubou. mas ela deixou. e depois ficou assim nervosa andando e voltando. ele não disse nada observou entendeu tudo e ficou quieto até porque no dia seguinte ela sumiu.
depois não se viram. ela vai passar e eu vou me comportar. tudo direitinho. não aconteceu nada mesmo. só o beijo aquele. tinha ficado contando os minutos em que tivera o gosto dela na boca. lambia os beiços e o coração disparava. nem escutou o rapaz da barbearia dar a notícia. O Zveiter anulou 11 jogos !! O Inter caiu de 1º pra 4º na tabela. F...o campeonato. Nos garfearam !!! todo mundo na barbearia esperando o que ia dizer. dizia sempre alguma coisa. a última palavra ali era a dele. davam risada das histórias que inventava tudo rápido assim do nada. Barão,o grandalhão que era o mais sério e respeitado, observava e depois dizia, eu não sei fazer isso o que ele faz com as palavras. como daquela vez em que arrancou do Antônio uns desaforos pavorosos sobre o prefeito e a coligação na eleição municipal, o pobre disse gato e sapato do homem. tudo bem se o Antônio não fosse o secretário geral do partido e da tal comissão eleitoral. deu o tal bode. Antônio, coitado, tinha que desmentir o assunto toda hora, é fofoca!! e deram risadas juntos depois. por isso mesmo que gostavam dele. não havia no fundo maldade nenhuma. era um baita de um deitado, não perdia piada.


Ela era de virgem. ah mudam de idéia da noite pro dia, procurando confirmação no olhar dela, mas quando tem um sonho sabem ir a luta, correm atrás.
eu não. até chegar lá, não mudo. nisso que somos diferentes. ah, também são críticas. viu? ela riu. ta, tua casa não é um castelo mal assombrado. foi só um jeito de falar mas, tem que guardar essas roupas põe no lugar, porque tu não guarda? sabia sempre aonde estava o errado. também são pessoas que se dão valor. e ciumeeeentas explicava. tudo que ele dizia, ele explicava.tu está me assuntando. como é que tu sabe tanto de mim!?

Tu é inteligente ela disse. ele disse que ela era sincera e como admirava gente verdadeira, franca, justa. daí que eles não conversaram mais.
não se apressa ela dizia. saiu de casa e disse que ia pra o banco. e em casa? ah, aqueles é o só tempo de botarem a comida pra dentro e deitar. entendeu? eles fazem sesta.

Tu acha que eu sou louca? acha ne?, fala ! por quê não fala? nunca fiz bobagem antes viu? é a primeira vez, disse com o dedo em riste apontado para o rosto dele. fala! tu acha que eu sou louca homem? faaala ! e batia nele.

Não.

Mas não ta certo. nunca toquei nem beijei mulher casada. agora se via no inferno. até jurou que não sabia. mas lembrava que já tinha roubado uma noiva. roubei a Ângela pra mim, é verdade. quem é ela? da faculdade, tava entrando, um anjo, era loira e cacheada, todo mundo sabia tinha visto ou a conhecia no campus. a TV sempre dava um jeito pra que aparecesse nas matérias sobre greve mensalidade cursos qualquer coisa com os estudantes. mas era triste. não suportei. me abri com ela. fase difícil. perdeu o pai. o noivo, um sujeito frio, nada, nem aí. aí o Catarina começou a dizer que saiu com ela. puxa, o Catarina. logo ele que não perdoava nem as amigas! ia cair na boca da rapaziada assim desse jeito? contei ora. cobrei, fala a verdade! me falou, soluçava, dava dó, não rolou nada, depois confirmei. exagerou pra não perder a fama. ficou minha amiga. ta chega. é eu peguei ela pra mim. é, assim. porque quis ora. ficou nisso. diz algo como que poderia ir embora a qualquer hora. só meu guri concordar e vamos pra Porto Alegre. não tinha mais ninguém mesmo. todos na cidade sabiam que vivia sozinho. os olhos dela brilhavam. ela chorava sem perder o sorriso. combinaram não mudar nada.
daí que ela disse. não vai ficar brabo...? e deu a rir que ele teve que esperar. tudo foi porque ela queria descobrir se ele era boiola. ele nem bolas. nunca aparecia com mulher e morava sozinho. não teve coragem de contar mais. ele nunca contava com quem saia. depois não queria prender ninguém no compromisso. mas acontece que em cidade pequena é assim. não mesmo, tudo que é lugar é assim ela corrige séria toda a pele marrom diante dele.
mas não vai pensar que é por isso que eu vim. bem séria de novo. tu acha que eu sou louca? ai meu Deus e suspirava misturada nele. fazer o que agora...?! não queria sair mais dali.

Foi o caso do Inter. teve poucos méritos na última partida mas durante todo o campeonato lutou com bravura. foi jogando limpo e mostrando valentia que convenceu que estava disposto a conquistar este título. até que o STJD e a CBF mudaram as regras do jogo no meio do caminho. não ganhou com bola e tudo como a torcida gostaria porque no campo teve o destino se atravessando com nome de Desembargador Sveiter. roubaram a felicidade da nação colorada. quer dizer, ganhou mas não levou. é campeão moral mas não é campeão oficial. o da taça, o da CBF e do STJD, com tudo registrado e tal. e depois a CBF e a justiça desportiva estavam mesmo era duvidando dos brios do clube. não podia ficar assim no zero a zero. foi pra defender a honra colorada que um torcedor acabou indo à justiça comum. pra provar que não eram todos uns boiolas. mas e agora, fazer o que....?! o torcedor abandona a ação na justiça comum e segue na Taça Libertadores da América para buscar o tão sonhado título mundial ou mantém a ação contra tudo e contra todos, assume a luta e os riscos apesar da coação de ser rebaixado ao inferno da segunda divisão do futebol brasileiro ? vai ser prático e usar a cabeça ou vai pelo coração ? quer saber, homem é tudo igual.

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