terça-feira, maio 17, 2005

Dia do Desafio

Shin - o estado interior
entrei despacito na Lan House do Gustavo mas não pelo hábito. a porta aberta e apenas uma mocinha acessando internet. pareceu encabulada quando me viu. chat ou sala de conversa, pensei. domingo de manhã, no celular marcava onze horas. o ônibus estacionado na frente do prédio da academia não havia ligado o motor. chuvinha fina, aquela que é chata que parece que não molha e molha rápido. Vitor insistia muito em comprar Gatorade, porque supõe que seja um repositor enegético para atletas e porque a mãe dele lhe deu cinco pilas prá gastar.
peguei de uma mesa a chave de fenda que procurava e tratei de apertar uns parafusos.
foram uns dois ou tres minutos. saio a tempo de ver o ônibus manobrando. curto o instante surrealista. olho para o lado nem sinal do guri. já vi tudo. com calma aparente sigo até a porta diante do motorista na última manobra e bato com uma moeda na janela... téc téc téc....mas o que esse cristão pensou quando me viu do lado de fora? acomoda o carro, explico que o guri ainda não voltou, tá chegando, vou até a esquina ele vem em carreira, gosta dessa confusão em volta dele, eu penso, toma um cascudo, ele se explica, não tinha Gatorade pai, mas eu comprei esse oh! Vitamina C e tá escrito energético! muito bom, agora é melhor entrar que estão esperando.
desabou na poltrona tirando camisa moleton casaco tudo ao mesmo tempo. tá quente aqui dentro! não táaaa cara! tu que estavas correndo...pára pra respirar...!... a gente conversa e é uma boa hora para comer o sanduiche vegetariano da mãe, o campeonato começa às duas. Sansei recomendou que ninguém estivesse de barriga cheia na hora da luta.
digo que tudo pode acontecer. ele diz em alto e bom som que vai trazer o troféu de campeão pra cidade. tem muita confiança em si. é, isto é bom. eu não lhe digo que tenho medo que se decepcione em seu primeiro campeonato. ele também não me disse que tinha medo. medo de perder. alguém tem que perder lhe ensinou a mãe que é sempre simples e prática como convém a todas as mães...

Ghi - o conhecimento tático
ele apenas me olha quando grito, sorri e volta a se concentrar nos gestos de um menino igual a ele em tudo, inclusive tamanho, pêso e categoria. no ginásio o único som era mesmo o da minha voz ao lado do tatame. Sai sai sai! não deixa não deixa! e ele escapa de uma imobilização...Toketa...
por três vezes seguidas desde o início da luta aplica contra-golpes oportunos desconcertando a seqüência previsível das lutas. alguém de fora está ousando beliscar uma vitória. pela frente ainda três reuniões de arbitragem...que tantas dúvidas eles têm e que tanto que falam? Sansei passa por mim apressado com aquela expressão
no rosto de vamos ver o que foi desta vez. olho para o placar. marca: 2, 1, 2. do outro lado: 0, 0, 1. pontos acomulados. waza ari, yuko, koka. se voltam para o centro do tatame. o ginásio fica quieto. se alternam uma dúzia de vezes em ataque e defesa... Tori e Uke...a campainha encerra o tempo da luta. ninguém comemora. desconfio que tem mais por vir. nova reunião. reinicia a luta. ele está cansado, não esconde. parece até que era isto que esperavam. o golpe vem certeiro. ele cai...

Tai - o corpo
tem que sair, sai, sai, sai, não deixa, não deixa!... e como se o tempo espraiasse só ao redor deles gira o corpo no instante que precede a queda, é mais do que se espera nesta altura da luta. ajoelha agarrado ao kimono, é puro intinto. a caça e o caçador...ninguém fala. os olhos dele são decididos e não os reconheço naquele momento. então... Mate..é outro intervalo...
mas o que eles estão aguardando? o Ippon da prata da casa?...campeonatos são praças de combate onde todos vêm buscar suas medalhas. natural. alguém vai perder ensinou a mãe. Sansei passa, ergo os braços mais alto ao que ele diz calma calma com as mãos...o juiz aponta o centro...Hajime... e reinica...
cinco horas de diferentes combates somente dois ficaram indefinidos provocando novo round. justamente a sua estréia tinha que ser um deles?
resiste. Tori avança, Uke não cede. então reverte a cena e trocam papéis, ele cresce novamente...
se afastam de onde escolhi fotografar, com um olho na câmera pego o instante. Tori puxa, Uke resiste. Tori puxa ainda mais forte e fime lhe varre as pernas por fora... Soto Gari... quando os dois se vão ao chão... Uke cai de costas, pelas regras cair de costas é golpe perfeito... o árbitro anuncia Ippon!
voltam a posição inicial no centro da arena. A zona de combate é um quadrado liso, sem barreiras entre os oponentes. noto que não há mais calma e não há displicência no árbitro. o braço direito faz um giro com a palma para cima parando a sua direita. finalmente a senha indicando que Vitor venceu.!...
só aí percebi que todo aquele canto do ginásio vibra e comemora muito.
foi uma grande estréia. digna. luta limpa. acima de tudo sempre cortês. coisas de um campeão...exagero né...mas a medalha ele não tirou mais do peito pelo resto do dia. Aliás só não dorme com ela de resto... e nela diz... campeão.
da arquibancada, vi quando levantou os braços comemorando. desde que saiu da casa da mãe no sábado queria o pódium.
ali ele era finalmente um vencedor com seu troféu.
na volta, desceu antes da rodoviária pra mostrar pra mãe a medalha, entrar no MSN, contar pra todo mundo...mãe ocupada, projeto grande, tempo curto, tantas coisas, parabéns, deixa eu ver, abraços, beijos.fomos comemorar fora... outra LAN. Conta de novo prá irmã e avós na internet. do meu lado aponta a hora. quer competir e pra isto escolheu Conter Stike 1.6. tenho que desligar ? sim né pai..., hora de fechar programas, estou diante de uma impaciente máquina de onze anos e voltando a rotina.

2 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns pro CAMPEÃO!!!!!!

Grandes beijos
Beth

Anônimo disse...

Vitor parabéns pela determinação e vontade de competir e ganhar.estas são forças impares, que nem todo mundo tem! e esta força de vontade deves desenvolver querido afilhado!
Jorge, escreves muito bem! parabéns pela cumplicidade c Vitor!
beijos, Ricardo e Cristina