domingo, setembro 25, 2005

Guia Prático Para Solução dos Problemas Diários


o primeiro Paulo Coelho a gente nunca esquece.


o meu primeiro foi numa discussão com os amigos de uma amiga. um entrevero que nunca vou poder mesmo. até porque foi exatamente o Alquimista que dispensei.
o pessoal tomando cerveja e cuspindo farofa encantada com aquela idéia fixa da vinda do novo mundo místico. diziam que já dava seus primeiros sinais para quem quisesse vê-los. eu era ou estava cego, diziam. haveria, enfim, a salvação das contas do fim do mês.
o cérebro, ou o que sobrou dele, hidratado a álcool, sugava copos de lúpulo e cevada fazendo transbordar a mente fértil. nem a letargia povoada de fantasias conectava as bruxas, duendes e fadas. os plausíveis personagens tão próximos quanto o sonho alquimista não vieram. mas o demônio, bem mais perto, ao lado, de forma etílica, nem espera prosperar o pecado, experiente, prático, apenas se limitou a colocar gentilmente mais umas no freezer.
declinei e abandonei o posto.
Putz! não era para adivinhar...tava na cara! a idéia vendia feito água na França. lá eles adoram comprar água. eu não mudei de assunto nada! logo ele se tornou o maior fenômeno literário mundial contemporâneo. não o exorcista. Ô cara...o Alquimista ta. ta bem, não debocha. então não joga pedra na Genny. como eu ia saber. só porque o planeta inteiro soube !? e daí... eu com isso!? é verdade, o Bill Clinton mudou a agenda por uns quinze minutinhos a sós com a personificação cabalística de um Mago. isto em pleno século XX. Paulo Coelho quem diria agora é um Imortal. não é hightlander nada. é mais um abastado em companhia de Sarney, Marinho, decrépitos, políticos e milionários. um bom vivant contador de tostões bem diferente daquele que escrevera o libelo da sociedade alternativa com Raul Seixas.
evidente que mais adiante acabei lendo o Paulo Coelho e não apenas o Alquimista. e se por um lado não mudaram minhas convicções, é bem verdade que me ajudou a refletir para entender melhor as perspectivas diferentes da minha. como a daquela turma gente fina, elegante e sincera, por exemplo, que cuspia farofa e metia a cerveja pra dentro. UÉ minha turma não! sai fora...mas e daí. eles aproveitaram bem a noite deles.
os livros de auto-ajuda também experimentaram uma explosão de vendas. o que não é surpreendente, mas esclarecedor.
nestes novos tempos ditos modernos, princípios e valores estão desaparecendo por falta de uso. volatizam ou acabam soterrados pelo lixo da desinformação. informação inútil de todo tipo, política, religiosa, tecnológica, eletrônica, games, páginas inúteis inundam a internet, spans e vírus. se espalham num esforço que vende felicidade instantânea como programas anti-vírus.
a cultura das massas, a música das massas, a novela das massas. o futebol das massas. a mídia das massas.
lixo, muito lixo ocupando espaço destinado aos pensamentos.
o certo e o errado ficaram muito tempo sob guarda rígida. de certa forma isto lhes deu acabamento e ares conservadores. e conservar se tornou nestes tempos de velocidade, o sinônimo de ultrapassado. felicidade JÁ!
mas não é necessariamente assim. felizmente. existem os clássicos para nos redimir. para desmentir o implacável. o guardião do tempo. a verdade.
nossa antropofagia popular amarela já não bebe nos clássicos. Mark Twein, Machado de Assis, Camões ou Hemngnwey. Umberto Eco, Ezra Pound, Jack Kerouac, Fernando Pessoa. enquanto Paulo Leminski e Mário Quintana se tornaram poetas malditos. foragidos. sem lugar nem cadeira na academia habitada por vaidosos egocêntricos hedonistas.
te falo de clássicos que faziam parte de nosso imaginário. até de um Monteiro Lobato. das histórias infantis que nos apresentavam o mundo e nos aproximava da compreensão da vida. dos rito de passagens até há pouco definidos como adolescência. é que todos hoje são eternamente jovens. Peter Pans e Cinderelas povoam cines domésticos em DVDs. que os céus abençoem a Globo por sua penitente investida na literatura épica cabocla. também por nos decifrar Érico Veríssimo, Graciliano Ramos, Jorge Amado. o interior humano de São Paulo, a dimensão libertária do pampa, o selvagem sertão de Minas de águas claras em Diamantina a insana saga da sobrevivência de Pirapora à Juazeiro no nordeste e mais recentemente, muito recentemente, na revelação de Marcio Souza, a vastidão da coragem na Amazônia.
alguém em algum lar ainda dá de presente aos novos um livro de presente. ainda acredita que se ganha tempo lendo. ainda acredita que está crescendo. enriquecendo o espírito. ampliando a vista de seus horizontes. apreendendo a alma humana.
bem, ao menos para possuir um vocabulário superior aos abomináveis “peguemu” e os “botemo” onipresentes ameaças à paz dos ouvidos. daí, quando tua mente sobreviver ao inverno da existência sem sentido, a alma verá a hora das flores chegar. como que a preparar o corpo para a espreguiçada final na companhia faceira dos risos do verão.

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